História da Medicina Tradicional Chinesa
De acordo com as teorias de “Neijing”, podemos concluir que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é tão antiga quanto a humanidade. Pode-se dizer que ela existe desde quando o primeiro homem pressionou e massajou o seu corpo instintivamente ao sentir dor. O primeiro nome que a tradição guardou foi Fu Hi (2953 ac) fundador da civilização chinesa, ao qual foi atribuído a invenção da caça, e do cozimento dos alimentos. Atribui-se a ele a criação dos oito hexagramas (símbolos constituídos por seis linhas de Yang ou Yin que estruturam o livro chinês) do livro das mutações. O seu sucessor foi o Imperador Cheng Nong (2838 ac) tendo ensinado às pessoas, as plantas curativas e assinalou as plantas tóxicas. Os conhecimentos foram transmitidos oralmente até à dinastia Chou (1122 a 256 ac) época onde apareceu o Huang Di Nei Jing Su Wen, cujo autor permanece desconhecido, mas supõe-se que tenha sido escrito por muitos médicos, cuja autoria fora atribuída ao legendário Imperador Huang Di. Esse livro contém toda a ciência do diagnóstico e tratamento por meio de agulhas e moxa. Quase toda MTC se baseia no Nei Jing, um dos livros mais importantes da MTC, pela riqueza das observações que contém, assim como ensinamentos sobre prevenção e tratamento de doenças. Quase todas obras posteriores foram inspiradas nesse livro. Nesse mesmo período, o famoso médico Pien Chueh descreveu a ressuscitação de uma pessoa considerada morta, com o uso de agulhas. Numerosas passagens difíceis foram retomadas no Nin Jing, atribuído a Pienn Tsio (300 ou 500 ac). Outra bibliografia que resistiu ao tempo foi a de Chouen yu yi, contemporâneo de Pien Tsio. Ele soube diagnosticar especificamente uma cirrose hepática, uma hérnia estrangulada, um ataque de gota, uma hemoptise justificando com as terapias indicadas em cada caso. No período de desunião (221 - 589) foi descrito um diagnóstico através do pulso radial.
No início da dinastia Han, assinala-se a existência de uma mulher médica, mas só no século XIV da dinastia Yuan é que foram reconhecidas oficialmente. Esse facto veio a mostrar-se de muita importância, uma vez que uma paciente do sexo feminino não se podia despir à frente de um médico. Normalmente, as chinesas utilizavam estátuas ou bonecas para indicar a ele o local onde sentiam dor. No final da dinastia Han, foi escrito o Chang Tsung Jing, livro que descreve o tratamento da malária pela acupunctura, moxa, ervas e de quimioterapia.
Na dinastia T'ang (sec. VII a VIII) a medicina atingiu o seu auge, dividindo-se em quatro especialidades. Primeiro vinham os médicos e especialistas na observação do pulso, que tratavam da medicina interna e externa, doenças pediátricas, da boca, nariz e garganta. Depois vinham os acupunctores, seguidos dos massagistas, que também utilizavam técnicas respiratórias e de redução de fracturas; e por último, os geomancistas e mestres em sortilégios.
Na dinastia Sung (960 - 1279) o Rei Sung Jen Tsung foi curado pela acupunctura e passou a dar-lhe grande importância. Ordenou a um médico famoso, Wang Wei Yi, organizar escritos sobre o assunto, bem como mapas e diagramas dos meridianos. Instituindo a primeira faculdade de acupunctura e foi confeccionado estátuas de bronze para exame dos estudantes.
Na dinastia Ming (1368 - 1643 dc) foi publicado o Zhen Jiu Da Cheng (grande perfeição das agulhas e da moxa) escrito por Yang jizhou, que fornece resumos de todas as obras conhecidas, desde o Nei Jing até seu aparecimento.
Na dinastia Chin (l649 - l9l0 d.c.) Fan Pei Lan escreveu sobre os tratamentos combinados das ervas e moxibustão e seleccionando pontos simples de acupunctura. Os governantes desta dinastia baniram a pratica da acupunctura, a qual continuou a ser praticada clandestinamente. A medicina ocidental provou sua eficiência em assuntos como epidemia e operações cirúrgicas, o que provocava interesse nos estudantes. As escolas de medicina tradicional foram aos poucos abandonadas, e após a revolução de 1912 só restavam oito. Do ano de 1945 ao ano de 1949 ocorreram lutas entre as duas forças que disputavam o poder político: Chiang Kai Shek (revolucionário) e Mao tse tung (comunista). No dia 1 de Outubro de 1949 foi proclamada a República Popular da China sob a liderança de Mao Tsé. No ano seguinte, desencadeou-se uma revolução sanitária dos trabalhos da saúde pública, onde a classe médica revoltada, com a ajuda dos operários, camponeses, soldados, e ainda a colaboração de médicos com formação ocidental e oriental, conseguiram oficializar a Medicina Tradicional. Com a china saneada, reorganizou-se estudos médicos, construíram-se faculdades, escolas e colégios médicos nas grandes cidades, e Mao tsé definiu que a linha a ser seguida era a coexistência da Medicina Popular e a Medicina Moderna. "Embora Mao tsé tenha promovido a associação da MTC com a medicina do oeste, a china actual não admite os conceitos taoístas, que estão descritos nos textos clássicos sinomédicos, muito antigos, e no entanto, tão actuais. " (Dulcetti , 1993).
Em 1974, foi criado em Pequim um instituto de pesquisa científica na Medicina Tradicional, e até 1958 já havia 27 institutos semelhantes com objectivo de determinar o valor da Medicina Popular através de métodos científicos modernos. Em 1958 começou-se a praticar analgesia por acupunctura. Realizando-se a primeira amigdalectomia sob analgesia por acupunctura, com sucesso. O método estendeu-se para cirurgias bucais, tireoidectomia, herniorrafia, remoção de tumores cerebrais, cirurgias de tórax, abdómen, pélvis e extremidades.
Na Actualidade segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), atribui à Acupunctura uma parte importante do grande tesouro da Medicina Tradicional Chinesa. Tem uma história que remonta há mais de dois mil anos. Durante um tempo longo de prática, os médicos das diversas dinastias chinesas desenvolveram e aperfeiçoaram esta especialidade, que abrange várias teorias básicas, tais como o Yin e o Yang, os cinco Movimentos, os Zang-Fu (órgãos e vísceras), Qi-Xue (energia e sangue) assim como vários métodos de manipulação de agulhas e experiências clínicas importantes do tratamento segundo os sintomas e sinais, fazendo com que a Acupunctura seja uma terapia muito eficaz na China. Esta terapia apresenta bons resultados diante de muitas enfermidades e possui vantagens acentuadas sobre outras, os instrumentos utilizados são simples, económicos e de fácil domínio, seguros e sem efeitos colaterais. É por essa razão que a Acupunctura tem um papel importante na área da saúde do Povo Chinês, assim como, tem obtido o respeito e confiança de outros países. Em Dezembro de 1979, a Organização Mundial de Saúde (OMS) da ONU tomou a decisão de indicar o tratamento com a acupunctura numa série de 43 doenças. A palavra acupunctura deriva do latim (acus) agulha e punctura (punção). É um método terapêutico, que consiste na punção com pequenas e sólidas agulhas, em pontos específicos do corpo para melhorar a saúde, diminuir a dor ou modificar o estado geral do paciente. No Ocidente a acupunctura já era conhecida pelos Portugueses por volta de 1650, no século XIX, cerca de 140 autores já haviam escrito sobre o assunto em livros franceses e alemães, mas só em 1930 começou em França a sua utilização concreta. No período inicial do tratamento pela Acupunctura, os antepassados chineses curavam as enfermidades com agulhas de pedra denominadas Bian, Chan e Zhen. Na época neolítica, além de agulhas de pedra artificialmente polidas, usavam-se também agulhas polidas de osso e de bambu como instrumentos para a acupunctura. Mais tarde com o desenvolvimento do cozimento de utensílios de barro, também foram utilizadas agulhas de barro, método utilizado em algumas regiões da China até á actualidade. Com o advento da metalúrgica apareceram sucessivamente, agulhas de diferentes metais, por exemplo, as agulhas de ferro, prata e de ligas metálicas, hoje em dia as agulhas são se aço inoxidável muito finas e de fácil manejo. A metalúrgica não só proporcionou a base do material para a fabricação de agulhas metálicas, como proporcionou a possibilidade de fabricar instrumentos para a Acupunctura para diferentes usos. Á medida que foi aumentando e acumulando experiências no tratamento da acupunctura, foram surgindo novas exigências no que toca às formas de agulhas. As “nove agulhas” da antiguidade eram fabricadas em nove formas distintas, segundo os diferentes usos, constituindo um símbolo do desenvolvimento das técnicas e teoria da Acupunctura. Em 1968, encontraram no túmulo da familia de Liu Sheng e Jing de Zhongshan, da dinastia Han do Oeste (sec. II a.C), nove agulhas para Acupunctura, quatro em ouro e cinco em prata, foi a primeira vez que se descobriu agulhas de metal usadas nos tempos antigos. As funções terapêuticas da Acupunctura resultam do estímulo de pontos especiais (pontos de acupunctura) e canais de energia, os pontos de acupunctura podem causar certas reacções em outras regiões ou em algum órgão, de forma a obter resultados medicinais. Segundo a teoria da Medicina Tradicional Chinesa, os pontos podem transmitir a função e as mudanças dos órgãos do interior do corpo para a superfície e, ao mesmo tempo, comunicar os factores externos da superfície até ao interior. No princípio os pontos não possuíam locais determinados, nem nomes próprios, tão pouco eram os pontos actualmente conhecidos. A descoberta dos pontos tem muito a ver com o desenvolvimento do tratamento pela Acupunctura. Pouco a pouco, a localização e a função de cada ponto foram sendo definidas. Para facilitar a memorização das suas indicações, os pontos foram denominados segundo as características da região anatómica onde se encontra e a sua função em particular. Por outro lado, através de constantes práticas clínicas, constatou-se que uma pessoa ao padecer de certa enfermidade, aparecem em determinadas áreas da pele ou em alguns pontos que se encontram em regiões diferentes, fenómenos anormais, tais como dor, distensão ou calor. Isto conduziu ao conhecimento do princípio da relação entre os pontos e as patologias e, por conseguinte, foi possível chegar ao diagnóstico por observação dos pontos de Acupunctura. Na antiguidade, ao aplicarem o tratamento da acupunctura, observou-se que sob determinado estimulo, as sensações de dor, intumescimento, distensão e peso no paciente estendia-se ao longo de uma determinada direcção. Posteriormente notaram, que determinados pontos que se encontravam em diferentes áreas do corpo tinham as mesmas funções ou funções parecidas. Sobre essa base de conhecimento, agruparam-se os pontos com funções similares ou com relações intimas, chegando-se assim á “linha” e dela as concepções dos “canais e colaterais”. Com base na manipulação das agulhas mais de 20 tipos de combinações foram elaboradas e desenvolvidas e a ordenação de registos dos canais de Acupunctura e seus pontos assim como pontos extras foram documentados pelos médicos famosos dessas épocas. Do estabelecimento da Dinastia Qing até á guerra do ópio (1644-1840) os doutores de medicina consideraram a medicina com ervas, como sendo superior á Acupunctura sendo esta durante muitas décadas negligenciada. No século XVIII, Wu Qian e os seus colaboradores por ordem imperial compilaram um livro exaustivo sobre Medicina Chinesa, contendo um capítulo de acupunctura com ilustrações, sendo imediatamente seguido de outro médico Li Xuechuán que enfatizava no seu livro a selecção de pontos de Acupunctura de acordo com a diferenciação de síndromes, sendo listados sistematicamente 361 pontos nos catorze canais de energia. Para além destes livros, havia muitas publicações, mas sem grande expressão. Em 1822, as autoridades da Dinastia Qing declararam uma ordem para abolir permanentemente a Acupunctura do departamento da Faculdade de Medicina Imperial porque, “A Acupunctura e a Moxibustão não são satisfatórias para serem aplicadas ao Imperador”. Após a guerra do ópio no ano de 1840, a China entrou em uma sociedade semi-feudal e semi-colonial. Com a revolução de 1911 e o fim da dinastia Qing o governo pro-ocidente instituído então, depreciou completamente a Medicina Tradicional Chinesa proibindo-a e tomando uma série de medidas para restringir o seu desenvolvimento incluindo a acupunctura. Devido á grande necessidade de cuidados médicos do povo chinês, a acupunctura disseminou-se entre as pessoas do povo. Muitos acupunctores fizeram esforços inflexíveis para proteger e desenvolver este grande legado médico, fundando associações de Acupunctura editando livros e promovendo cursos por correspondência para ensinar tal arte. A Acupunctura ganhou nova vida assim como a Medicina Chinesa quando em Outubro de 1944 o presidente Mao, fez um discurso apelando a reintegração da Medicina Tradicional Chinesa na área da saúde da nova China. Desde a fundação da Republica Popular da China, foi acelerada a propagação da Acupunctura e dos cuidados médicos tradicionais por todo país. Nos anos 50 do século XX, a China ajudou a antiga União Soviética e outros países da Europa Oriental a formar acupunctores. Desde o ano de 1975 a pedido da Organização Mundial de Saúde, foram criados cursos de formação de Acupunctura Internacional em Beijing, Shangai e Nanjing para formar acupunctores de outros países. Mais de 120 países enviaram profissionais, para se especializarem. Actualmente o intercâmbio de organizações académicas ocidentais com a associação médica chinesa é vasta e alargada a muitos países, incluindo Portugal.
Terapeuta, Hugo Rocha
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